Intercâmbio Ciência Ficção Alex Raymond
Blog do Intercâmbio Ciência Ficção Alex Raymond, instituição criada em outubro de 1965, em Piracicaba (S.P.), na intenção de difundir a cultura das histórias em quadrinhos através do Ficção, primeiro fanzine brasileiro.
domingo, 15 de março de 2015
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Muito além de Tintim
A editora Globo Livros Graphics lança em novembro, no Brasil, o álbum em quadrinhos "As Diabruras de Quick e Flupke - vol. 1" (Les Exploits de Quick et Flupke - vol. 1),
de Hergé. Criadas pelo pai de Tintim em 1930, as peripécias dos
pequenos garotos de Bruxelas já foram publicadas em português como
"Aventuras e Desventuras de Quim e Filipe", mas nunca por uma editora
brasileira.
:: Um pouco de história
Quick et Flupke fizeram sua estreia em 20 de janeiro de 1930 no mesmo jornalzinho que apresentou Tintim, o Le Petit Vingtième.
Os personagens-título são dois travessos meninos de Bruxelas que vivem
se envolvendo em situações engraçadas, criando invenções inusitadas e
enlouquecendo os adultos - principalmente o Agente 15, um policial à lá dupond e Dupont que vive implicando com eles. Suas historinhas não passam de duas páginas, às vezes sem falas, mas sempre com gags relacionadas ao cotidiano dos moleques.
Ao longo de uma década, foram mais de 300 histórias publicadas. A
primeira compilação das tiras de Quick e Flupke foi publicada
originalmente em 5 livros entre 1930 e 1941, em preto e branco. Só mais
tarde, com o fim da Segunda Guerra Mundial, as tirinhas foram coloridas e
republicadas em 11 volumes, entre 1949 e 1969, tornando-se populares em
outros países de língua francesa, além da Bélgica. Entre 1975 e 1982
foi editada uma nova coleção com as mesmas histórias, agora em seis
volumes, com o título "Les Exploits de Quick et Flupke". Após a morte de
Hergé, a série foi republicada pela Casterman em 12 volumes entre 1985 e
1991, fora da ordem cronológica e incluindo tiras não desenhadas pelo
artista. Em Portugal, a Editorial Verbo publicou "Aventuras e
Desventuras de Quim e Filipe" em 12 volumes.
:: Os nomes Quick e Flupke são o diminutivo dos nomes Patrick e Phillipe, respectivamente, no dialeto belga brabant.
:: Diz a lenda que, voltando ao trabalho depois de tirar férias, Hergé foi surpreendido por uma "pegadinha" dos colegas de redação, que, sem avisar, haviam anunciado publicamente que ele lançaria uma inédita série de quadrinhos. Com poucos dias para dar conta do recado, Hergé mesclou reminiscências infantis com influências do cinema e dos cartuns norte-americanos para dar vida a dois garotos às voltas com confusões nas ruas da Bruxelas dos anos 1930. Limitado ao espaço de duas páginas por semana, Hergé desenvolveu a partir dali narrativas cômicas que, além do primor da concisão, apresentam a atmosfera ternamente poética do universo das crianças.
:: A série já virou desenho animado nos anos 1980, e manteve o mesmo estilo rápido e nonsense dos quadrinhos. (http://www.tintimportintim.com/)
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Família tenta salvar legado do criador de ‘Jerônimo’
RIO - Autor da lendária radionovela dos anos 50 e 60 Jerônimo, O Herói do Sertão, Moysés Weltman (1932-1985) – radialista, novelista, roteirista, quadrinista – deixou um rico acervo, organizado por décadas por sua mulher e agora defendido por seus três filhos. Eles buscam patrocínio para recuperar fitas de áudio e vídeo, quadrinhos e material impresso, em sua maior parte sob a guarda do Arquivo Nacional, no Rio, e digitalizar o material, para poder exibi-lo integral e gratuitamente na internet.
A família acredita que uma declaração dada pela presidente Dilma Rousseff no início do mês, na cerimônia de assinatura de decreto de adaptação das rádios AM para FM, possa ajudá-la na empreitada. "Eu lembro que no período das 18 horas, em Belo Horizonte, a gente escutava na Rádio Nacional Jerônimo, O Herói do Sertão. Era interessante, um herói local, coisa rara no Brasil", disse Dilma na ocasião.
As aventuras do paladino da justiça pelos interiores de um País ainda muito rural, um homem misterioso que lutava contra poderosos coronéis em defesa dos oprimidos, sempre na companhia de seu ajudante Moleque Saci e de sua eterna noiva Aninha, foram ao ar na Rádio Nacional de 1953 a 1967. Era sucesso absoluto não só entre as crianças e adolescentes, mas também entre o público adulto.
A narração era de Mário Lago e a transmissão era de segunda a sexta, pontualmente às 18h35. O valente Jerônimo tinha a voz do ator Milton Rangel, dublador de astros de Hollywood como Henry Fonda, Gregory Peck e Gene Kelly, e eletrizava a audiência montado em seu cavalo Príncipe.
Da radionovela, que teve 3.276 capítulos e foi influenciada pelos westerns norte-americanos, surgiram, três anos depois, os quadrinhos, também escritos por Weltman e com desenhos de Edmundo Rodrigues. Foram feitas também duas versões para a TV: uma em 1972, produzida pela TV Tupi, e outra em 1984, do SBT.
Se hoje o justiceiro está aposentado, suas peripécias vivem na memória de quem era jovem nas décadas de 50 e 60. Na internet, gibis do herói, que foram produzidos por dez anos, são vendidos como raridades.
O projeto de restauração e digitalização do acervo Moysés Weltman já foi aprovado na Lei Rouanet no valor de R$ 729.700. Inclui a telecinagem (passagem para a mídia digital) de novelas, programas de rádio, seriados e 31 filmes, curtas e longas-metragens em acetato de 16mm e 35mm.
Está prevista ainda a recuperação de scripts, revistas, fotonovelas, letras de músicas infantis, livros, fotos e documentos. São 924 fitas magnéticas no Arquivo Nacional, 218 de roteiros. Tudo isso foi amealhado por toda a vida pela mulher de Weltman na produtora dele.
"Alguns filmes estão começando a avinagrar e parte das fitas está com fungos. É um acervo muito importante para a história da comunicação no Brasil, do rádio, da TV, do mercado editorial, que já tem o selo do Conselho Nacional de Arquivos como um acervo de interesse público. Nossa expectativa é chamar a atenção de quem se lembra do Jerônimo, que foi o primeiro grande herói brasileiro", diz o filho Fernando Lattman-Weltman.
"Os textos poderão ser reencenados ou adaptados para o teatro, por exemplo. A Dilma falar do Jerônimo foi uma surpresa, mas isso é muito comum. Quem era criança nos anos 50 e 60 ouvia com a família na sala, como hoje se vê TV."
Weltman é autor de duas novelas dos primórdios da TV Globo, Rosinha do Sobrado (a primeira novela das 19 horas, exibida em 1965, ano da fundação da emissora) e Padre Tião (de 1966) Fez também outras novelas de rádio e um seriado em 13 episódios sobre momentos importantes da história do Brasil.
Além do que está no Arquivo Nacional, há material na Cinemateca Brasileira, na TV Globo e na TV Cultura. Os filhos querem reunir tudo e criar um site sobre Moysés Weltman com todo o acervo catalogado, biografia, imagens e depoimentos sobre ele.
Pioneiro do rádio, da TV e dos quadrinhos, Weltman teve uma carreira de 40 anos iniciada na Rádio Nacional. Depois passaria pela Mayrink Veiga, Tupi e Clube do Brasil. Chegou à TV pela Tupi, Canal 6, Canal 13, Continental e participou da fundação de três emissoras: Globo, TVS e Manchete.
Ele colaborou com programas de grande audiência, como o Grande Teatro e o Teatrinho Troll, na Tupi. Primeira produção dramatúrgica da Globo, a minissérie Rua da Matriz, da qual era um dos autores, foi ao ar em seu primeiro dia de transmissão, 26 de abril de 1965.
Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo 23 de novembro de 2013 | 19h 23
A família acredita que uma declaração dada pela presidente Dilma Rousseff no início do mês, na cerimônia de assinatura de decreto de adaptação das rádios AM para FM, possa ajudá-la na empreitada. "Eu lembro que no período das 18 horas, em Belo Horizonte, a gente escutava na Rádio Nacional Jerônimo, O Herói do Sertão. Era interessante, um herói local, coisa rara no Brasil", disse Dilma na ocasião.
As aventuras do paladino da justiça pelos interiores de um País ainda muito rural, um homem misterioso que lutava contra poderosos coronéis em defesa dos oprimidos, sempre na companhia de seu ajudante Moleque Saci e de sua eterna noiva Aninha, foram ao ar na Rádio Nacional de 1953 a 1967. Era sucesso absoluto não só entre as crianças e adolescentes, mas também entre o público adulto.
A narração era de Mário Lago e a transmissão era de segunda a sexta, pontualmente às 18h35. O valente Jerônimo tinha a voz do ator Milton Rangel, dublador de astros de Hollywood como Henry Fonda, Gregory Peck e Gene Kelly, e eletrizava a audiência montado em seu cavalo Príncipe.
Da radionovela, que teve 3.276 capítulos e foi influenciada pelos westerns norte-americanos, surgiram, três anos depois, os quadrinhos, também escritos por Weltman e com desenhos de Edmundo Rodrigues. Foram feitas também duas versões para a TV: uma em 1972, produzida pela TV Tupi, e outra em 1984, do SBT.
Se hoje o justiceiro está aposentado, suas peripécias vivem na memória de quem era jovem nas décadas de 50 e 60. Na internet, gibis do herói, que foram produzidos por dez anos, são vendidos como raridades.
O projeto de restauração e digitalização do acervo Moysés Weltman já foi aprovado na Lei Rouanet no valor de R$ 729.700. Inclui a telecinagem (passagem para a mídia digital) de novelas, programas de rádio, seriados e 31 filmes, curtas e longas-metragens em acetato de 16mm e 35mm.
Está prevista ainda a recuperação de scripts, revistas, fotonovelas, letras de músicas infantis, livros, fotos e documentos. São 924 fitas magnéticas no Arquivo Nacional, 218 de roteiros. Tudo isso foi amealhado por toda a vida pela mulher de Weltman na produtora dele.
"Alguns filmes estão começando a avinagrar e parte das fitas está com fungos. É um acervo muito importante para a história da comunicação no Brasil, do rádio, da TV, do mercado editorial, que já tem o selo do Conselho Nacional de Arquivos como um acervo de interesse público. Nossa expectativa é chamar a atenção de quem se lembra do Jerônimo, que foi o primeiro grande herói brasileiro", diz o filho Fernando Lattman-Weltman.
"Os textos poderão ser reencenados ou adaptados para o teatro, por exemplo. A Dilma falar do Jerônimo foi uma surpresa, mas isso é muito comum. Quem era criança nos anos 50 e 60 ouvia com a família na sala, como hoje se vê TV."
Weltman é autor de duas novelas dos primórdios da TV Globo, Rosinha do Sobrado (a primeira novela das 19 horas, exibida em 1965, ano da fundação da emissora) e Padre Tião (de 1966) Fez também outras novelas de rádio e um seriado em 13 episódios sobre momentos importantes da história do Brasil.
Além do que está no Arquivo Nacional, há material na Cinemateca Brasileira, na TV Globo e na TV Cultura. Os filhos querem reunir tudo e criar um site sobre Moysés Weltman com todo o acervo catalogado, biografia, imagens e depoimentos sobre ele.
Pioneiro do rádio, da TV e dos quadrinhos, Weltman teve uma carreira de 40 anos iniciada na Rádio Nacional. Depois passaria pela Mayrink Veiga, Tupi e Clube do Brasil. Chegou à TV pela Tupi, Canal 6, Canal 13, Continental e participou da fundação de três emissoras: Globo, TVS e Manchete.
Ele colaborou com programas de grande audiência, como o Grande Teatro e o Teatrinho Troll, na Tupi. Primeira produção dramatúrgica da Globo, a minissérie Rua da Matriz, da qual era um dos autores, foi ao ar em seu primeiro dia de transmissão, 26 de abril de 1965.
Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo 23 de novembro de 2013 | 19h 23
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Novos leitores para as histórias em quadrinhos
* Edson Rontani Júnior
Buscar novos leitores para as
histórias em quadrinhos é um desafio perseguido não apenas no Brasil. Foi-se o
tempo de ir à banca de revista para escolher uma publicação ou outra, do mesmo
jeito que hoje dedicamos minutos de nossas vidas em lojas de CDs ou DVDs.
Confesso que sou do tempo em que ir à banca de jornais e revistas era um relax,
no qual minha vista se inflava com as capas de revistas da EBAL, RGE, Abril,
Vecchi e tantas outras desconhecidas da geração atual.
Nosso país foi muito frutífero no
lançamento de revistas em quadrinhos, os populares gibis. Em alguns anos, os
títulos lançados no mercado chegavam a superar em impressão até mesmo os mais
importantes livros considerados best-sellers.
Comemorar, então, o Dia Nacional
dos Quadrinhos, lembrado neste 30 de janeiro, seria um indelicado eufemismo. A
batalha agora envolve em manter os leitores de mangás consumindo o produto
impresso, ou seja, a bendita revista de história em quadrinhos. Os
jornais já enfrentam esse desafio desde o início da década. O mundo digital
levou a leitura feita através de impressão física fadada ao passado. Luluzinha
e Mônica são anacronismos que agradam pessoas como eu. Aí o mercado aparece com
Luluzinha Teen e Mônica Jovem.
O Dia dos Quadrinhos é uma data
genuinamente brasileira. Foi neste dia, em 1869, que Ângelo Agostini, publicou
na “Vida Fluminense” a primeira história em quadrinhos que se tem registro no
país. As aventuras de Nhô Quim satirizava o império português, em especial com
concordar com a manutenção do escravagismo.
Se hoje a data merece lembrança,
ela ocorre também pela dedicação de gente como Roberto Marinho, Aldofo Aizen e
Roberto Civita, editores das mais importantes revistas já lançadas no país. “O
Globo Juvenil”, “O Lobinho”, “O Guri”, entre tantos outras foram publicações de
suas editoras, Globo, EBAL (Editora Brasil América Ltdª.) e Abril. Não passavam
de “enlatados”, ou seja, reprodução de tiras ou histórias que fizeram sucesso
nos Estados Unidos no período pré e durante Segunda Guerra Mundial. Seus
expoentes eram Batman, O Homem Borracha, Namor O Príncipe Submarino, Spirit,
Superman e muitos outros. As crianças babavam com as capas feitas. Infelizmente,
boa parte das revistas tinha seus miolos impressos em papel jornal, fácil de
rasgar, o que as tornou raras, encontradas apenas nas mãos de poucos
colecionadores. As revistas em quadrinhos surgiram, no final dos anos 1930,
após o sucesso dos suplementos de jornais com tiras.
Muitos outros contribuíram para o
mercado editorial, como as famílias La
Selva nos anos 50 e depois as editoras Bloch e Vecchi. As
únicas que se mantêm na ativa, dentre aquelas que viveram os anos dourados, são
a Editora Abril e a Editora Globo (que assumiu as publicações da RGE – Rio Gráfica Editora – e O Cruzeiro).
Em compensação, o mercado
editorial das HQs nos brindou com expoentes de alto nível. Dentre estes estão Gedeone
Malagola, Jaime Cortez, Nico Rosso, Lyrio Aragão e, claro, Maurício de Sousa, o
mais ativo quadrinistra na atualidade.
Gonçalo Júnior, no espetacular livro
“A Guerra dos Gibis”, conta tudo isso e muito mais, revelando bastidores da
rivalidade entre Roberto Marinho e Adolfo Aizen, que começaram juntos nos anos
1930. Aizen, aliás, é considerado o pai das histórias em quadrinhos no país.
Foi ele quem trouxe ao Brasil as primeiras histórias dos estúdios Disney,
adquiridas depois pela Editora Abril. Sua editora, a EBAL, tinha primazia pela
qualidade das publicações. A tradução e o uso da tipografia nos balões surtiam
um belo efeito artesanal, hoje substituído pelos computadores.
Visualizar o futuro das HQs é
confundi-las com charges ou caricaturas. São diferentes dos cartoons. A
garantia de que irão existir é concreta, sejam vistas digitalmente ou
impressas. O certo é que passado histórico o país possui graças às
desbravadores como Agostini, Aizen e Marinho. Difícil é olhar no horizonte e
não visualizar sequer um expoente que segure a onda como esses pioneiros. Bom
dia dos quadrinhos !
* o autor é jornalista e
pós-graduado em jornalismo contemporâneo (erj@merconet.com.br)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
O homem por trás da teia dos heróis
Jotabê Medeiros, de O Estado de S.Paulo
Stan Lee está para a cultura pop da nossa época tal como Hieronymus Bosch para o imaginário religioso do século 16. Lee é o criador do Homem-Aranha, Hulk, Capitão América, Thor, X-Men, Quarteto Fantástico e Homem de Ferro, titãs modernos que povoaram a indústria cultural popular a partir dos anos 1960 no mundo todo - de certa forma, substituindo simbolicamente alguns colossos clássicos como Hércules, Medusa, Hidra, Minotauro.
“Você mudou a minha vida e a de milhões de pessoas”, declarou a Stan Lee o baixista e vocalista da banda Kiss, Gene Simmons, durante uma convenção de que ambos participavam, em janeiro do ano passado, no Sundance Festival. A opinião de Simmons já tinha sido compartilhada, em discursos no Carnegie Hall de Nova York, em 1972, por dois insuspeitos fãs do artista: o cineasta francês Alain Resnais e o jornalista Tom Wolfe. Mas Lee nunca foi uma unanimidade: seu mais brilhante parceiro, Jack Kirby (1917-1994), criou um personagem para retratá-lo como “um sujeito exibicionista e mau caráter, sempre enrolando alguém”.
No último dia 28, esse notável criador, admirado visionário e controverso personagem completou 90 anos. A data mereceria destaque, mas foi pouco abordada: o lançamento mais recente ficou, aqui nos trópicos, a cargo do expert brasileiro Roberto Guedes, que não titubeou e lançou um pequeno volume biográfico sobre o artista, Stan Lee, o Reinventor dos Super-Heróis. É um livro modesto, embora ilustrado com critério e com uma pesquisa minuciosa, reproduzindo dezenas de capas de gibis e fotos.
Trata-se de uma biografia escrita sem nenhuma interferência do autor, pelo contrário. “Não é uma biografia autorizada, mas Stan me concedeu duas entrevistas num passado recente, que usei como base para a obra: em 2007, para a revista Wizmania (Panini Editora) e, em 2008, para o meu livro A Era de Bronze dos Super-Heróis (Editora HQM). Ao longo dos anos, também entrevistei outros ex-profissionais da Marvel, como Marv Wolfman, Roy Thomas e Tom DeFalco, cujos depoimentos também deram mais embasamento ao livro”, explicou o autor.
“Especificamente para a biografia, entrevistei dois ex-colaboradores de Stan: os roteiristas Steve Englehart e Gerry Conway, que também atuou como editor-chefe da Marvel. Isso tudo, além da extensa pesquisa a que me dediquei, está transcrito nas páginas da bibliografia.”
Segundo Guedes, o foco foi “tanto no fã de histórias em quadrinhos quanto o leitor ‘normal’, aquele que gosta de ler biografias de pessoas famosas. Por isso evitei termos e expressões que só teriam sentido para os estudiosos e catedráticos. A narrativa é despojada e mostra muito da vida particular de Stan Lee, ou seja, o homem por trás do mito”. Um mito, como o dos personagens, mantido à custa de truques e perucas, conta o autor.
Não são poucas as biografias que existem nos Estados Unidos explorando a trajetória de Stan Lee nos quadrinhos. Muitas delas se detêm nos aspectos mais controversos de sua trajetória de self-made man, como o fato de que não teria sido tão correto em sua relação com muitos colaboradores próximos. Guedes não evita esses pontos, mas deixa clara sua admiração pelo personagem.
Nascido Stanley Martin Lieber em Nova York, em 1922, filho de imigrantes judeus romenos, Lee foi leitor de Poe e Dickens na infância. Seus heróis desafiam o tempo, a ciência, a verossimilhança, o politicamente correto. “Não acho que (desenhar heróis) seja mais perigoso do que ler contos de fada, poesia ou mesmo a Bíblia”, afirmou o artista, que conheceu os nossos Mauricio de Sousa, Álvaro de Moya e Jayme Cortez.
Em 1992, um gibi da sua turma mutantes X-Men vendeu 8 milhões de exemplares. Sempre teve ácida capacidade crítica. Tratou do tema das drogas de forma pioneira, sob encomenda do governo americano. Inspirado no milionário Howard Hughes, ele criou o milionário Tony Stark, alter ego do Homem de Ferro.
Seu fascínio pelos heróis continua forte, assim como seu tino comercial. De olho nos novos mercados dos Brics, Stan Lee lançou em 2011, na Índia, um herói local, Chakra, o Invencível, um adolescente gênio da tecnologia que vive na cidade de Mumbai. Chakra desenvolve um traje especial que ativa os centros de energia místicos (os chacras), e que lhe dá superpoderes. Também se associou a Ringo Starr, dos Beatles, para criar um personagem.
Os primeiros três filmes do Homem-Aranha renderam US$ 2,5 bilhões em todo o globo. Stan Lee ganhou muito dinheiro com isso, tanto amigavelmente quanto na Justiça, já que acionou sua ex-companhia (é presidente de honra da Marvel) para receber royalties. Isso não o afastou das produções, entretanto. São famosas suas participações incidentais, como um Hitchcock dos gibis, nos filmes. No segundo filme, ele surge como um sujeito de bigode e capa que salva uma criança de ser morta por um tijolo, enquanto o Homem-Aranha e Octopus duelam no alto dos prédios. No mais recente, o duelo entre o Lagarto e o Aranha na escola não chega a perturbar o bibliotecário, que nem se liga na destruição. De novo, era Stan Lee.
“Bem, ele está com 90 anos, acabou de passar por uma cirurgia e continua na ativa. Faz suas participações no cinema e TV, cuida da parte criativa de sua empresa multimídia e ainda escreve as tiras de jornal do Aranha. É mais do que muita gente com a metade de sua idade almeja realizar um dia”, diz Roberto Guedes, sobre a permanência do mito de Stan Lee. “Particularmente, eu considero Stan Lee uma instituição viva, uma espécie de Rolling Stones das HQs. Ninguém espera que ele crie mais nada revolucionário, pois já fez tudo que era realmente necessário fazer. Os fãs apenas o querem por perto, ali, nos holofotes, brilhando.”
Stan Lee está para a cultura pop da nossa época tal como Hieronymus Bosch para o imaginário religioso do século 16. Lee é o criador do Homem-Aranha, Hulk, Capitão América, Thor, X-Men, Quarteto Fantástico e Homem de Ferro, titãs modernos que povoaram a indústria cultural popular a partir dos anos 1960 no mundo todo - de certa forma, substituindo simbolicamente alguns colossos clássicos como Hércules, Medusa, Hidra, Minotauro.
“Você mudou a minha vida e a de milhões de pessoas”, declarou a Stan Lee o baixista e vocalista da banda Kiss, Gene Simmons, durante uma convenção de que ambos participavam, em janeiro do ano passado, no Sundance Festival. A opinião de Simmons já tinha sido compartilhada, em discursos no Carnegie Hall de Nova York, em 1972, por dois insuspeitos fãs do artista: o cineasta francês Alain Resnais e o jornalista Tom Wolfe. Mas Lee nunca foi uma unanimidade: seu mais brilhante parceiro, Jack Kirby (1917-1994), criou um personagem para retratá-lo como “um sujeito exibicionista e mau caráter, sempre enrolando alguém”.
No último dia 28, esse notável criador, admirado visionário e controverso personagem completou 90 anos. A data mereceria destaque, mas foi pouco abordada: o lançamento mais recente ficou, aqui nos trópicos, a cargo do expert brasileiro Roberto Guedes, que não titubeou e lançou um pequeno volume biográfico sobre o artista, Stan Lee, o Reinventor dos Super-Heróis. É um livro modesto, embora ilustrado com critério e com uma pesquisa minuciosa, reproduzindo dezenas de capas de gibis e fotos.
Trata-se de uma biografia escrita sem nenhuma interferência do autor, pelo contrário. “Não é uma biografia autorizada, mas Stan me concedeu duas entrevistas num passado recente, que usei como base para a obra: em 2007, para a revista Wizmania (Panini Editora) e, em 2008, para o meu livro A Era de Bronze dos Super-Heróis (Editora HQM). Ao longo dos anos, também entrevistei outros ex-profissionais da Marvel, como Marv Wolfman, Roy Thomas e Tom DeFalco, cujos depoimentos também deram mais embasamento ao livro”, explicou o autor.
“Especificamente para a biografia, entrevistei dois ex-colaboradores de Stan: os roteiristas Steve Englehart e Gerry Conway, que também atuou como editor-chefe da Marvel. Isso tudo, além da extensa pesquisa a que me dediquei, está transcrito nas páginas da bibliografia.”
Segundo Guedes, o foco foi “tanto no fã de histórias em quadrinhos quanto o leitor ‘normal’, aquele que gosta de ler biografias de pessoas famosas. Por isso evitei termos e expressões que só teriam sentido para os estudiosos e catedráticos. A narrativa é despojada e mostra muito da vida particular de Stan Lee, ou seja, o homem por trás do mito”. Um mito, como o dos personagens, mantido à custa de truques e perucas, conta o autor.
Não são poucas as biografias que existem nos Estados Unidos explorando a trajetória de Stan Lee nos quadrinhos. Muitas delas se detêm nos aspectos mais controversos de sua trajetória de self-made man, como o fato de que não teria sido tão correto em sua relação com muitos colaboradores próximos. Guedes não evita esses pontos, mas deixa clara sua admiração pelo personagem.
Nascido Stanley Martin Lieber em Nova York, em 1922, filho de imigrantes judeus romenos, Lee foi leitor de Poe e Dickens na infância. Seus heróis desafiam o tempo, a ciência, a verossimilhança, o politicamente correto. “Não acho que (desenhar heróis) seja mais perigoso do que ler contos de fada, poesia ou mesmo a Bíblia”, afirmou o artista, que conheceu os nossos Mauricio de Sousa, Álvaro de Moya e Jayme Cortez.
Em 1992, um gibi da sua turma mutantes X-Men vendeu 8 milhões de exemplares. Sempre teve ácida capacidade crítica. Tratou do tema das drogas de forma pioneira, sob encomenda do governo americano. Inspirado no milionário Howard Hughes, ele criou o milionário Tony Stark, alter ego do Homem de Ferro.
Seu fascínio pelos heróis continua forte, assim como seu tino comercial. De olho nos novos mercados dos Brics, Stan Lee lançou em 2011, na Índia, um herói local, Chakra, o Invencível, um adolescente gênio da tecnologia que vive na cidade de Mumbai. Chakra desenvolve um traje especial que ativa os centros de energia místicos (os chacras), e que lhe dá superpoderes. Também se associou a Ringo Starr, dos Beatles, para criar um personagem.
Os primeiros três filmes do Homem-Aranha renderam US$ 2,5 bilhões em todo o globo. Stan Lee ganhou muito dinheiro com isso, tanto amigavelmente quanto na Justiça, já que acionou sua ex-companhia (é presidente de honra da Marvel) para receber royalties. Isso não o afastou das produções, entretanto. São famosas suas participações incidentais, como um Hitchcock dos gibis, nos filmes. No segundo filme, ele surge como um sujeito de bigode e capa que salva uma criança de ser morta por um tijolo, enquanto o Homem-Aranha e Octopus duelam no alto dos prédios. No mais recente, o duelo entre o Lagarto e o Aranha na escola não chega a perturbar o bibliotecário, que nem se liga na destruição. De novo, era Stan Lee.
“Bem, ele está com 90 anos, acabou de passar por uma cirurgia e continua na ativa. Faz suas participações no cinema e TV, cuida da parte criativa de sua empresa multimídia e ainda escreve as tiras de jornal do Aranha. É mais do que muita gente com a metade de sua idade almeja realizar um dia”, diz Roberto Guedes, sobre a permanência do mito de Stan Lee. “Particularmente, eu considero Stan Lee uma instituição viva, uma espécie de Rolling Stones das HQs. Ninguém espera que ele crie mais nada revolucionário, pois já fez tudo que era realmente necessário fazer. Os fãs apenas o querem por perto, ali, nos holofotes, brilhando.”
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