segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aimar Aguiar



   Aimar Aguiar nasceu em Salvador, BA, em 25 de novembro de 1946. Atuou como militar do Corpo de Bombeiros, aposentando-se no posto de Coronel. Trabalhou também como Professor de Educação Física, dando aulas de natação.

    Todos os fanzineiros do passado e presente deste imenso Brasil devem agradecer ao nosso pai, o super-herói dos fanzines, o falecido Edson Rontani. Este foi um dos motivos que me incentivou a fazer o “Nostalgia dos Quadrinhos”. Na época, anos 1960 e 1970, em vários estados, publicavam fanzines. Em São Paulo, o “Ficção” de Edson Rontani e “Vivendo os Quadrinhos” de Artur Antônio Rocha Ferreira. Em Minas Gerais, o “Boletim do Herói” de José Agenor S. Ferreira. Na Bahia, “Na Era dos Quadrinhos” de Gutemberg Cruz Andrade, “Focalizando os Quadrinhos” de Jorge Antônio Ramos e “De Olho nos Quadrinhos”. No Rio Grande do Sul, “Historieta” de Oscar Christiano Kern. Ninguém daquela época dedicava um fanzine inteiramente à nostalgia. Como eu colaborava com vários fanzines com material nostálgico, decidi elaborar o “Nostalgia dos Quadrinhos”, que foi um sucesso e até o presente momento (2002) é o mais antigo sendo publicado.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Setentão louro e carioca

* Jotabê Medeiros - O Estado de São Paulo
 
Papagaio! A exemplo de Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, o Zé Carioca tá fazendo 70 anos!

Trata-se de uma data importante para o "carioca way of life". O personagem Zé Carioca, criado por Walt Disney em 1942, morava na favela. Vivia de pequenos expedientes, golpes em restaurantes de hotéis, diversão de penetra em clubes grã-finos. A periquita Rosinha, sua namorada eternamente enrolada, surgiu nos quadrinhos como uma das mais sexy pin-ups da era pré-Jessica Rabitt.
Zé Carioca não cumprimentava friamente, como os americanos, mas dava abraços "quebra-costelas" nos chegados, como no turista gringo Pato Donald. Nas primeiras tiras, ele era identificado como José (Joe) Carioca. Agora, para celebrar a data, sua história é tema de um especial da Editora Abril, que reedita todas as tiras iniciais produzidas entre 1942 e 1944, além de uma seleção especial de histórias até 1962 recoloridas digitalmente.
Por causa de sua faceta de malandro e inimigo do trabalho, Zé Carioca já foi alvo de campanhas politicamente corretas. "O Zé Carioca é um personagem antiético terrível, com todos os clichês negativos", disse, em 1999, a autora Denise Gimenez Ramos, professora titular da PUC e coautora da tese Os Animais e a Psique (Palas Athenas, 284 págs.), na qual buscava restabelecer conexões simbólicas entre as pessoas e os bichos - incluindo suas representações ficcionais. "O personagem de Disney nunca trabalha, fica em geral deitado numa rede sonhando em ganhar na loteria - é um arquétipo falso, que perpetua o Macunaíma", afirmou. 

O pioneirismo de Disney com o Zé Carioca sempre foi questionado. Já havia precedentes simultâneos e até anteriores. O cearense Luiz Sá (1907-1980) criou, nos anos 40, um papagaio vestido de gente chamado Faísca, que apareceu muitos anos antes do Zé Carioca. E há a eterna desconfiança que a inspiração de Disney tenha partido de um trabalho do cartunista brasileiro J. Carlos.
Em agosto de 1941, Walt Disney visitou o Brasil (além de alguns outros países da América do Sul), estimulado pelo irmão Roy, como parte do esforço da Política de Boa Vizinhança do governo Franklin Roosevelt, que visava a estreitar as relações dos Estados Unidos com os países latinos.
Para o pesquisador Celbi Vagner Pegoraro, jornalista, pós-graduado em Relações Internacionais e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, há muitas inspirações que resultaram no papagaio folgazão de Walt Disney, e não só os desenhos de J. Carlos. "Mas é fato que Walt Disney ficou encantado com a obra do brasileiro", afirma.
Pegoraro lembra que a saison brasileira de Disney o mostrou menos interessado em eventos diplomáticos e mais em atividades artísticas (foi ao lançamento do filme Fantasia no Rio e em São Paulo), e seu primeiro encontro com J. Carlos ocorreu numa exposição na Associação Brasileira de Imprensa. Na mostra havia obras de diversos brasileiros, mas os desenhos de J. Carlos retratavam a fauna brasileira, incluindo aí o papagaio. Seus traços chamaram tanta atenção que dois fotógrafos da equipe de Disney gastaram muito tempo registrando os quadros. Durante um almoço promovido pelo chanceler Oswaldo Aranha no Palácio do Itamaraty, Disney fez pessoalmente um convite para que J. Carlos trabalhasse em seu estúdio, mas o brasileiro recusou. Foi então que o artista presenteou Disney com um desenho de papagaio.
Após 70 anos, Zé Carioca permanece sendo publicado pela Editora Abril. As revistas aproveitaram o sucesso do personagem nos filmes dos anos 1940 e 1950. Em 1944, ele estrelou o filme Você Já Foi à Bahia?, da Disney (nos quais sua voz não era de um carioca da gema, mas do paulista de Jundiaí José do Patrocínio Oliveira, indicado por Carmen Miranda).
A partir daí, o gibi do Zé Carioca inicialmente alternou números com o Pato Donald até ganhar a própria publicação em janeiro de 1961, época em que cartunistas brasileiros começaram a ter sua chance. "Porém, seu auge ocorreu mesmo nos anos 1970, pelas mãos do gaúcho Renato Canini, que aproximou de forma mais latente o Zé Carioca da realidade brasileira, consolidando sua identidade de malandro", conta Pegoraro.
Suas aventuras ocorrem na Vila Xurupita, um bairro fictício nos morros do Rio, e o personagem ganha uma série de amigos e parentes, caso do Zé Paulista, um primo louco por trabalho. Desde então, outros artistas brasileiros prosseguiram com o personagem e há um desafio da nova geração, como a do quadrinista Fernando Ventura, de desenvolver o Zé Carioca para uma nova geração. Especialmente agora que o volume 2 terá duas histórias inéditas feitas por brasileiros.


sábado, 20 de outubro de 2012

As décadas de ouro dos quadrinhos



* por Edson Rontani

O período de 1930 a 1940 foi o marco definitivo das histórias em quadrinhos. Ação e personagens fantásticos tomaram conta das páginas dos jornais diários e revistas próprias. Começando em 1929 com Tarzan, por Rex Maxon; Buck Rogers, por Dick Calkins, em 1930; Capitão César, por Roy Crane, em 1931; Dick Tracy, por Chester Gould, em 1932; Agente Secreto X-9, por Alex Raymond, em 1932; Brick Bradford, por Clarence Grey, em 1933; Flash Gordon e Jim das Selvas, por Alex Raymond, em 1934. Nesse ano surgiu o extraordinário mágico Mandrake, criado por Lee Falk e com desenhos de Phil Davis. Em 1935, surge Terry e os Piratas, por Milton Caniff. Em 1936, Harold Foster realizou sua obra mais ambiciosa: O Príncipe Valente. Em 1937 apareceu Red Ryder (Bronco Piler), de Fred Hermann, e, em 1938, Charlie Chan, por Alfred Andriola. Essa foi a década de uma verdadeira revolução das histórias em quadrinhos.
Em 1935, William M. Gaynes desenhou a primeira revista que continha diversas histórias em quadrinhos completas, em cores, e assim surgiram personagens como, Super-Homem, Batman, O Raio, Tocha Humana, Príncipe Submarino, Capitão Marvel, e muito outros heróis. Na década de 50, os desenhistas decidiram produzir em larga escala aventuras do faroeste. Pouca novidade e nem houve revelações, com exceção de dois bons desenhistas, Frank Robbin e John Cullen, autores de Big Ben Bolt.
Em 1950 as histórias em quadrinhos se encontraram em uma etapa plena de madureza e superante. Deve-se a vários fatores, pelo trabalho intenso e criativo que deu resultado a criação de ambientes, tramas e personagens que respondem a uma necessidade particular de temperamento do leitor. Pode-se afirmar que as histórias em quadrinhos americanas já impunham absoluta superioridade. No Brasil ela começou a evoluir em finais da década de 50, com crescente rapidez, aperfeiçoando-se em suas realizações e desenvolvendo-se em grandes proporções. Entre os desenhistas brasileiros que manifestaram-se destacam-se: André Le Blanc, Messias de Mello, Antônio Euzébio, Jayme Cortez, José Geraldo e outros. Muitas revistas brasileiras foram editadas na década de 50. A maioria dedicava-se às histórias de terror. Pouca oportunidade tiveram nossos desenhistas. As revistas produzidas por brasileiros não aguentaram a chegar até o final da década de 60. O único que se manteve no ramo e ainda se mantém é o autor da Mônica, Bidu, Cebolinha, o grande desenhista Maurício de Sousa.

Matéria originalmente publicada no jornal “Tribuna Piracicabana” em 19 de fevereiro de 1993

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


O Doodle desta segunda-feira (15/10/2012) é uma homenagem ao cartunista e animador Winsor McCay. Para homenageá-lo, o Google substituiu as letras do logotipo da página inicial de buscas pela mais famosa tira semanal do artista, chamada "Little Nemo in Slumberland", que completa 107 anos hoje.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Drácula: literatura e quadrinhos



* por Edson Rontani

“Carmila” é uma eficiente e angustiante história de vampiro. Mas ninguém, do gênero, conseguiu provocar maiores arrepios que o Conde Drácula. Provenientes das sombras regiões entre a vida e a morte, o vampiro é um dos mais resistentes mitos do terror. A crença nos vampiros sempre foi mais forte nos balcãs e esta foi a região escolhida por Bram Stoker (1837-1912) para situar o castelo do maior vampiro de todos: Drácula.
Stoker, um irlandês sempre em busca de sucesso literário, enveredou pelos métodos clássicos do folhetim ao contar a história do Drácula, publicado em 1897.
O público da época adorou, desde então, sobretudo com a propriedade advinda das muitas versões cinematográficas, o mito do vampiro implacável e elegante se fez crescer. Juntando a lenda da Transilvânia ao entrecho de uma peça popularíssima sobre vampiros , “Varney", ele cria o misterioso conde que mora num castelo e, com  força sobrenatural, dominando os elementos e os animais, é o príncipe das trevas. Um estranho marginal, cruel mas charmoso e fascinante, por isso mesmo, continua mais vivo do que nunca.
Com o fim da II Grande Guerra Mundial, os super-heróis dos quadrinhos começaram a perder o prestígio. Desgastados pelo excessivo uso de seus poderes contra o Inimigo nazista, agora continuava a repetir as mesmas fórmulas, enquanto o interesse do público diminuía cada vez mais.
Foi nessa época do pós-guerra que o desenhista americano Stan Lee, criador de vários super-heróis, também abandonou-os. Logo depois, em 1950, Stan Lee iniciava a explosão comercial de uma nova moda que estava surgindo: as dos contos de terror. Revistas como “Adult Fantasy”, “Tales of suspense”, “Strange Tales”, apareceram com sucesso nos estados Unidos, principalmente as histórias de Drácula.
No Brasil, a primeira revista de terror foi lançada pela Editora La Selva, de São Paulo, com o nome de “Terror Negro”, em 1950, apresentando um herói que tinha o mesmo nome da revista, mas nada de história de terror. Não deu certo e parou de ser publicada por uma temporada. Em 1951, a editora La Selva recebeu a proposta para lançar no Brasil a “Beyond”, uma das muitas revistas de terror que se publicavam nos Estados Unidos. A proposta foi aceita, e em agosto daquele mesmo ano, a revista começou a circular com o mesmo nome de “Terror Negro”, só que desta vez com histórias negras.
O Brasil foi campeão de publicações de revistas de histórias de terror nas décadas de 50 e 60, com mais de 100 títulos novos. Proibida nos Estados Unidos, as histórias de terror, começaram a ser produzidas aqui mesmo pelos brasileiros. Drácula, desenhado pelo brasileiro Nico Rosso, foi o personagem que mais histórias em quadrinhos teve em nosso país.

Matéria originalmente publicada no “Jornal de Piracicaba” em 14 de março de 1993